Artur e Rita decidiram comemorar o aniversário de dez anos de
casamento com um cruzeiro e festejariam também os dias de carnaval. Preparam-se
para a viagem com romantismo, planos de se amarem ao balançar do navio e se beijarem
no convés sob a luz das estrelas e com a brisa do mar. Queriam reviver o tempo
de namoro.
O roteiro definido e as atividades catalogadas, entre elas, o
baile de fantasia e máscara na terça-feira de carnaval. Combinaram que um não
saberia a fantasia do outro. Embarcaram dois dias antes do carnaval. Foram dias
de sol e alegria, de gente bonita e feliz ao redor, com o serviço a bordo mais
que agradável que fizeram com que, Artur e Rita se descobrissem outros, outros
e felizes e apaixonados.
Na noite do baile à fantasia, combinaram não se verem fantasiados
Artur se vestiria primeiro. Rita ficou pelos salões do navio, pelo convés
contando estrelas, enquanto Artur se fantasiava. No horário combinado ela foi
para a cabine, seria sua vez de fantasiar-se.
Quando Rita chegou ao salão do baile com maquiagem ousada,
peruca de cabelos diferentes dos seus e lentes de contato para mudar a cor de seus olhos. Muitos passageiros já estavam lá com
suas fantasias e máscaras. Rita estava ansiosa para descobrir Artur entre eles,
vasculhando com o olhar os participantes, quando ouviu a voz conhecida dizer:
_ Aceita essa taça de vinho, linda feiticeira?
_ Obrigada, Rita responde.
Depois de galanteios, ele a convidou para dançar. Rita resolveu
fazer o jogo dele e o tratou como
desconhecido. Fez-se sedutora, sorrisos enigmáticos, vislumbres de promessas,
nem ela se reconhecia nos jeitos e trejeitos e na sensualidade que ousava.
Artur fez sua contraparte no jogo, um perfeito sedutor, olhares
através da máscara exclusivos para ela, apertava-a contra seu peito na dança,
sua mão deslizava em suas costas, até onde alcançava, e ela às vezes o afastava
delicadamente, fitando seus olhos de modo provocante. Depois de outras taças de
vinho e algumas danças, Artur a levou para fora do salão, até o convés vazio e
ali, beijos ardentes...
Debruçados na grade do convés, abraçados olhando a lua refletida
no mar, aos poucos suas razões retornam ao normal. Depois de uns minutos Artur
diz:
_ Foi uma sensação incrível beijar você, nunca esquecerei! Mas
me desculpe, preciso encontrar minha mulher que deve estar me procurando.
Beijou-a na testa e entrou no salão.
Rita nem sabe quanto tempo ficou ali, pode ter sido um minuto ou
horas. Dirigiu-se à cabine, tirou a fantasia, vestiu-se e foi andar pelas
dependências do navio. Quando já amanhecia foi para cabine e encontrou Artur banhado,
de pijama e preocupado com seu sumiço. Rita não falou sobre o acontecido, ele
também não.
Nos dias que ainda ficou no navio, Artur procurou
disfarçadamente, pela feiticeira e ao descer do navio levava o coração triste,
junto com uma Rita decepcionada e decidida a acabar com o casamento.
Como aceitar que ela mesma foi a outra?
Artur concordou com a separação, queria a liberdade para
procurar a feiticeira, daria um jeito de ver a lista de passageiros,
contrataria detetive, precisava encontrar a mulher que o enfeitiçou...