quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Pensando o pensamento de Clarice Lispector




Nunca tive um só problema de expressão, meu problema é muito mais grave: é o de concepção. Quando falo em “humildade” refiro-me à humildade no sentido cristão (como ideal a poder ser alcançado ou não); refiro-me à humildade que vem da plena consciência de se ser realmente incapaz. E refiro-me à humildade como técnica. Virgem Maria, até eu mesma me assustei com minha falta de pudor; mas é que não é. Humildade com técnica é o seguinte: só se aproximando com humildade da coisa é que ela não escapa totalmente. Descobri este tipo de humildade, o que não deixa de ser uma forma engraçada de orgulho. Orgulho não é pecado, pelo menos não grave: orgulho é coisa infantil em que se cai como se cai em gulodice. Só que orgulho tem a enorme desvantagem de ser um erro grave, com todo o atraso que erro dá à vida, faz perder muito tempo.

Ser humilde no reconhecimento da ignorância, não ter a pretensão de conhecer tudo sobre qualquer coisa que seja, e nem o orgulho de não reconhecer suas incapacidades. Como diz Clarice, a humildade com técnica é a verdadeira humildade cristã e a técnica é essa: “a plena consciência de ser incapaz”. Mas essa constatação não me desobriga de buscar sempre crescer na vida e, principalmente no meu conhecimento próprio. Pelo contrário, ao reconhecer falhas, preciso analisar os meios que possuo para diminuí-las e sempre com humildade de saber que nunca serei perfeita. Até hoje não havia tido essa visão de humildade, mas de fato, é a que mais a define. Até aqui via humildade simplesmente como não ostentar poderes, quer fossem materiais ou intelectuais, mas é muito mais, Clarice sabia...


“Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada… Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro, não é?”

( Clarice Lispector )
(Citação idêntica ao trecho no livro Vir a ser – Edições 2-3

Sim, sim Clarice, eu escrevo para me conhecer, como estou fazendo agora, estou simplesmente me desnudando a mim mesma. Com isso, às vezes encontro pessoas conhecidas que não via há algum tempo que, após a troca de algumas palavras, afirmam que estou mudada. Respondo que não é isso, somente estou revelando o que já aprendi sobre mim.


Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.

Quantas vezes desejei não entender. Ser limitada mentalmente deve ser o paraíso. É viver sem sofrer e talvez mais amar. Em outras circunstâncias quis entender mais, mergulhar na verdade oculta ao meu entendimento e, nessas vezes senti-me como Clarice, louca sem ser doida. E fui salva como ela, vi que era uma doçura de burrice, sacudi os ombros e sem orgulho e com humildade, conclui que não entenderia mesmo. O que em muitas situações foi o melhor, uma benção como ela diz.


Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota. Sem nenhum medo. Não mata.

Somente acrescento ao seu pensamento: Amor não mata. Amor revigora!


Obrigada Clarice!




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