Muitas vezes já ouvi essa expressão:
“Que vida de cão!”
Referindo-se a uma
vida sacrificada, sem alegrias, rotineira e com todo tipo de sacrifícios. Acho
que até já usei também essa expressão quando os compromissos ocuparam todo meu tempo,
ocasionando frustrações por não poder realizar meus desejos prazerosos.
Resolvi analisar
como é a vida de um cão e tomei, por exemplo, a vida do meu dobermann marrom,
lindo e que sempre que era contrariado, destruía alguma coisa, especialmente se
o dono da coisa foi quem impediu alguma vontade sua. Uma graça!
Depois que se
tornou adulto dormia em sua caixa desde que o sol nascia até o entardecer,
quando acordava e se punha a latir ininterruptamente, até alguém sair para a
volta de meia hora pelas ruas ou nos jardins da praia e esse infeliz alguém,
que nunca fui eu, pois não tinha força para dominá-lo, necessitava levar vários
sacos plásticos para recolher as “obras” que ele fazia pelo caminho. Na volta
um enorme prato de carne moída misturada com arroz integral e legumes o
esperava. Ele tinha também suas preferências gastronômicas, por exemplo,
beterraba picada miúda e misturada ao arroz, ele não gostava e conseguia não
deixar nem um grão de arroz ou algum sinal de carne no prato, mas os pedacinhos
de beterraba ficavam todos. Também era carente de afeto, como nós, não é? Precisava
da companhia dos humanos seus donos, caso contrário ficava deprimido, não
comia, o que aconteceu também quando outro cachorro chegou à casa. Ele fez
greve de fome até o intruso partir. Muito inteligente!
A noite ficava
acordado andando pelo quintal enquanto tivesse movimento na casa, depois
deitava-se próximo ao portão, mas se estivesse frio ia para
o aconchego de sua caixa. Durante a noite o ouvia em rondas esporádicas
pelo quintal, ou se alguns transeuntes passassem conversando ele vinha tal qual
um galopar de cavalo e latindo furioso. Sempre tive a sensação de que era por o
terem acordado. Se paravam frente à casa aí ele até rosnava, de tão perturbado
que ficava. Assim eram seus dias...
Comparados com os
meus... obrigações, trabalhar para ter casa, comida e passeios, preocupações
diversas, aguentar chefe e empregadas domésticas, fazer supermercado, depilar
pernas, axilas e virilhas, usar sapatos de salto alto, marido, filhos e
diversos familiares que querem ser mimados e esquecem de mimar, conseguir que o
salário acabe somente no último dia do mês, manicura semanal, enfrentar
trânsito estando atrasada. E as cobranças da consciência? E o trabalho pra
manter a chama do amor e a silhueta esbelta...
Vida de cão é
maravilhosa!
Quem será que inventou todas essas
chatices pra nossa vida? O jeito é desconstruir as estruturas chatas e
impostas, descobrir novas e jogar fora as bagagens inúteis!
Mas vamos combinar, que cachorro egoísta e chato foi este seu...rsrsrsrsrs
ResponderExcluirMuito bom o texto final, faz parte do contexto, valores e momentos da vida.
Pôxa Hilda! Tá mandando muito bem!bj