sábado, 12 de janeiro de 2013

CIBER AMOR



Caprichara tanto, para nada. Lá estava ela de volta, sozinha. E olha que aguentou valentemente e manteve a aparência e o semblante sereno - ou pelo menos tentou -, até o último frequentador pagar a conta e sair. E quando o último passou por ela e olhou nos seus olhos por alguns segundos, seu coração bateu forte, sentiu a respiração se alterar. Não que ele fosse o que ela avaliava como um homem atraente. A calvície estava começando a se apresentar, o perfil de seu corpo já mostrava aquele "esse" tão comum de todo homem, casado ou ex-casado, depois dos trinta e muitos anos. Sabe qual "esse", não é? Aquele que eles costumam identificar como o sinal de prosperidade, mas que ela considerava como sinal de acomodação, de excessos alimentares e alcoólicos com que se enganam e se consolam pelas frustrações e derrotas que sofrem pela vida. Mas era um homem, e era tudo o que precisava naquela noite. Um homem que a amasse e lhe sussurrasse frases românticas. Sim, pra piorar ela ainda era uma romântica!

Arrancou a roupa do corpo, jogou no chão e ficou olhando pro vestido de renda preta que custou a sobra do salário do mês e também do próximo, e no qual havia depositado toda sua esperança. Tinha se achado tão atraente dentro dele! Nem limpou do rosto a maquiagem caprichada, não queria se olhar no espelho, se enfrentar! Resolveu ligar o computador, se relacionar com o mundo através dele. Foi quando num daqueles "sites" de bate-papo. Virtualmente se batizou Veruska, sempre considerou esse nome sensual.

A solidão também estava junto dele quando fechou a porta do apartamento. Nem outro uísque com gelo conseguiu arrancar aquela sensação de estar só num mundo onde todos pareciam acompanhados e felizes. Aí lembrou a maneira como foi olhado por aquela mulher quando saiu do bar. Porque ele não parou na sua mesa? Percebeu tristeza e solidão, quase a cumprimentou, mas aquela maquiagem horrorosa e aquele vestido que não escondia a passagem do tempo nem a falta de exercícios físicos não deixaram. Resolveu ver se alguns de seus amigos virtuais estavam presentes na sala de bate-papo, na Internet, que costumava frequentar.

O Lordman entrou no bate-papo, procurou pelos nomes conhecidos e reparou naquele, Veruska. Não se lembrava de já ter visto esse nome por ali! E a Veruska não mandava mensagem pra ninguém, será que só conversava no reservado? Seria tímida, ou estaria ocupada conversando com outros? Essa Veruska deve ser alguém interessante, imaginou. Dirigiu-se à Veruska.

_ Lordman: De onde teclas?

_ Veruska: De Pirapora, conhece?

_ Lordman: Jura? Eu também!

Ela se descreveu com a maior sinceridade e com a mesma sinceridade contou sua solidão, sua paixão pelos animais, suas preferências musicais, seu inusitado prazer em colecionar listas telefônicas, tinha centenas delas, até uma que ela tinha trazido de um hotel da Conchinchina, empilhadas a um canto da sala.

Ele a achou inteligente, interessante, gostou e se identificou em seus princípios, em seus posicionamentos frente aos imprevistos da vida! E ainda a mesma solidão, quase os mesmos gostos, a mesma mania de colecionar coisas, só que ele colecionava caixas de sapatos, também tinha uma pilha delas e ninguém entendia essa sua paixão.

Depois de alguns dias e de muitas conversas digitadas, ao ouvir pela primeira vez a voz dele ao telefone, ela tremeu de emoção. Até brincou consigo mesma que iria acreditar que Papai Noel existia! Ele era tudo que ela sempre procurou. Tinha certeza que também gostaria do seu cheiro, do contato de sua pele...

E o primeiro encontro aconteceu sem surpresas, sem decepções, com todo amor que, involuntariamente, vinham economizando e concluíram, intimamente, que o outro era de fato atraente e bonito, inteligente e interessante como tinha se descrito!

Nenhum dos dois se reconheceu naqueles frequentadores do bar, solitários e últimos... 



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