Sou muito feliz com minha memória.
Quer dizer, mais ou menos, já ocorreram várias situações que ela
me deixou na mão. Uma delas é encontrar alguém com quem já estive algumas
vezes, ou até aconteceu algum convívio rápido e ela, a memória, me negar o nome
da pessoa. Nessas ocasiões tenho que fazer um exercício linguístico até
cansativo. Conversar, comentar as vivências que partilhamos e sem citar o nome.
Pelo menos a antipática memória não me nega as palavras que necessito para
disfarçar o nome não pronunciado. E vou confessar que, quase sempre o outro
lembra meu nome, isso acaba comigo, faz com que eu me sinta uma anciã.
E ela não falha só com nomes de pessoas não, ela some com tudo
que for nome: de filme, de livro, de ator, de música, de localidades. Essa
pequenina falha da minha fabulosa memória, atrapalha muito meu prazer de um bom
papo. Nessas situações lembro o provérbio “Falar é prata, calar é ouro” e fico
com o ouro, pronto!
Fatos, situações e emoções que vivi, esses estão gravado
indelevelmente nas minhas lembranças, também tudo que envolver alguma lógica.
Não que precisem ser fórmulas matemáticas ou enunciados lógicos. São lógicas
que, com ajuda da memória, crio para localizar no tempo e no espaço o que for
necessário, através de associações de fatos memorizados.
Pois é, estou vasculhando todos os cantos da minha memória para
saber de onde já o conheço. O nome nem perco o tempo procurando, mas o local, a
data aproximada, isso sempre consigo concluir, não entendo essa dificuldade que
estou sentindo em lembrar-me dele. Sei que já estive com ele, até sinto seu
toque nos meus ombros.
Lembro-me do seu olhar fixo no meu, nem piscávamos com medo de
desfazer o clima...
Beijo?
Houve memória? Fala, vai?
Cruzei com ele no café lá do shopping, mas ele parece que não me
viu ou se viu não me reconheceu! Será que ele não se lembra da praia ao
entardecer, onde caminhávamos a beira da água?
Não consigo lembrar qual praia era e que época foi, o nome dele,
bom isso é o de menos, já estou acostumada.
Amanha volto no café na mesma hora...
Prometi e cumpri e ele estava lá. Olhou-me com algum
interesse, mas saiu andando até o elevador e sem olhar pra trás. No outro dia a
mesma coisa e minhas lembranças dele cada vez com mais detalhes. E outro dia, e
outro...
Até que um dia nos encontramos no elevador do shopping e ele convidou-me
para um café.
Conversamos e combinamos um encontro mais tarde.
A água morna levando a espuma do shampoo, as lembranças dele
ainda vagas. O toque do telefone...
Foi assim! Lembrei!
A super memória se revelou!
Sabia que o conhecia!
E ele me foi tirado pelo toque de um telefone!
Foi o sonho mais delicioso que sonhei um dia!
Será que minha super memória também é memória futura?
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