terça-feira, 22 de outubro de 2013

Memória futura




Sou muito feliz com minha memória. 

Quer dizer, mais ou menos, já ocorreram várias situações que ela me deixou na mão. Uma delas é encontrar alguém com quem já estive algumas vezes, ou até aconteceu algum convívio rápido e ela, a memória, me negar o nome da pessoa. Nessas ocasiões tenho que fazer um exercício linguístico até cansativo. Conversar, comentar as vivências que partilhamos e sem citar o nome. Pelo menos a antipática memória não me nega as palavras que necessito para disfarçar o nome não pronunciado. E vou confessar que, quase sempre o outro lembra meu nome, isso acaba comigo, faz com que eu me sinta uma anciã.

E ela não falha só com nomes de pessoas não, ela some com tudo que for nome: de filme, de livro, de ator, de música, de localidades. Essa pequenina falha da minha fabulosa memória, atrapalha muito meu prazer de um bom papo. Nessas situações lembro o provérbio “Falar é prata, calar é ouro” e fico com o ouro, pronto!

Fatos, situações e emoções que vivi, esses estão gravado indelevelmente nas minhas lembranças, também tudo que envolver alguma lógica. Não que precisem ser fórmulas matemáticas ou enunciados lógicos. São lógicas que, com ajuda da memória, crio para localizar no tempo e no espaço o que for necessário, através de associações de fatos memorizados.

Pois é, estou vasculhando todos os cantos da minha memória para saber de onde já o conheço. O nome nem perco o tempo procurando, mas o local, a data aproximada, isso sempre consigo concluir, não entendo essa dificuldade que estou sentindo em lembrar-me dele. Sei que já estive com ele, até sinto seu toque nos meus ombros.

Lembro-me do seu olhar fixo no meu, nem piscávamos com medo de desfazer o clima...

Beijo?

Houve memória? Fala, vai?

Cruzei com ele no café lá do shopping, mas ele parece que não me viu ou se viu não me reconheceu! Será que ele não se lembra da praia ao entardecer, onde caminhávamos a beira  da água?

Não consigo lembrar qual praia era e que época foi, o nome dele, bom isso é o de menos, já estou acostumada.

Amanha volto no café na mesma hora...

Prometi e cumpri e ele estava lá. Olhou-me com algum interesse, mas saiu andando até o elevador e sem olhar pra trás. No outro dia a mesma coisa e minhas lembranças dele cada vez com mais detalhes. E outro dia, e outro...

Até que um dia nos encontramos no elevador do shopping e ele convidou-me para um café.  

Conversamos e combinamos um encontro mais tarde.

A água morna levando a espuma do shampoo, as lembranças dele ainda vagas. O toque do telefone...

Foi assim! Lembrei!

A super memória se revelou!

Sabia que o conhecia!

E ele me foi tirado pelo toque de um telefone!

Foi o sonho mais delicioso que sonhei um dia!


Será que minha super memória também é memória futura?



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Revele que esteve aqui!