Lembranças de um tempo quando sentada no
alpendre da casa da Chácara na Serra, via a neblina se fazendo presente. Corria
para admirá-la com uma caneca de mate bem quente e uma manta de lã, porque ela
sempre se acompanhava do frio, seu parceiro, num casamento perfeito. Ela
chegava devagarzinho, inicialmente apagava o sol, depois se embrenhava pelos
galhos das árvores, mudava o perfil do morro, a estradinha sinuosa de terra que
descia o morro desaparecia, diluía as cores dos meus canteiros floridos. Quando
tudo estava escondido, ficava ainda mais interessante. Sugeria mistério que
invadia minha imaginação e me levava a analogias com meus atos e dos observados
em outros.
A neblina é formada pela condensação da água
evaporada. Criamos nossa neblina condensando os vapores gerados pelo medo. Medo
gerado pela escravidão da aprovação. Nela escondemos o que imaginamos ser
reprovável, a naturalidade fica defeituosa. A neblina da minha chácara na Serra
me mostrou isso e ali, analisando e observando sua chegada, senti como ser
livre de neblina é necessário para se viver a liberdade total.
Que me importa se não concordar e ficar
evidente que não gostei de algo? Pior é ter que gerar neblina e mentir, ou
dizer meias palavras, ou usar de frases ambíguas que dizem e não afirmam nem
esclarecem. Que me importa ou me tira se entenderam errada minha sinceridade?
Nada, e assim dissipo uma parte da minha neblina. E como faz bem sentir essa liberdade
de ser e exibir meu ser, nítido. Quem me aceitar, me ame e se achegue se não,
me esqueça.
A neblina entristece aqueles que nela escondem
seus sentimentos ou necessidades, muitas vezes vitais. O medo a gera densa,
obscura, intransponível a todos que desejarem nela penetrar. Se na neblina
nos escondermos de nós mesmos, mostrando posturas que não são nossas para
satisfazer à sociedade ou conquistar os que avaliamos serem poderosos,
escravizaremos nossa verdade em uma máscara que se torna constante, e seu
atrito com nosso medo de aprovação, criará feridas em nosso ser.
Nossa neblina tem por companheiro o frio do
medo de aprovação. Busquemos a bebida e a manta que nos aqueça e acabe com
nosso inverno interior.
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