quinta-feira, 17 de abril de 2014

Bruma, névoa, neblina...




Lembranças de um tempo quando sentada no alpendre da casa da Chácara na Serra, via a neblina se fazendo presente. Corria para admirá-la com uma caneca de mate bem quente e uma manta de lã, porque ela sempre se acompanhava do frio, seu parceiro, num casamento perfeito. Ela chegava devagarzinho, inicialmente apagava o sol, depois se embrenhava pelos galhos das árvores, mudava o perfil do morro, a estradinha sinuosa de terra que descia o morro desaparecia, diluía as cores dos meus canteiros floridos. Quando tudo estava escondido, ficava ainda mais interessante. Sugeria mistério que invadia minha imaginação e me levava a analogias com meus atos e dos observados em outros.

A neblina é formada pela condensação da água evaporada. Criamos nossa neblina condensando os vapores gerados pelo medo. Medo gerado pela escravidão da aprovação. Nela escondemos o que imaginamos ser reprovável, a naturalidade fica defeituosa. A neblina da minha chácara na Serra me mostrou isso e ali, analisando e observando sua chegada, senti como ser livre de neblina é necessário para se viver a liberdade total.

Que me importa se não concordar e ficar evidente que não gostei de algo? Pior é ter que gerar neblina e mentir, ou dizer meias palavras, ou usar de frases ambíguas que dizem e não afirmam nem esclarecem. Que me importa ou me tira se entenderam errada minha sinceridade? Nada, e assim dissipo uma parte da minha neblina. E como faz bem sentir essa liberdade de ser e exibir meu ser, nítido. Quem me aceitar, me ame e se achegue se não, me esqueça.

A neblina entristece aqueles que nela escondem seus sentimentos ou necessidades, muitas vezes vitais. O medo a gera densa, obscura, intransponível a todos que desejarem nela penetrar. Se na neblina nos escondermos de nós mesmos, mostrando posturas que não são nossas para satisfazer à sociedade ou conquistar os que avaliamos serem poderosos, escravizaremos nossa verdade em uma máscara que se torna constante, e seu atrito com nosso medo de aprovação, criará feridas em nosso ser.


Nossa neblina tem por companheiro o frio do medo de aprovação. Busquemos a bebida e a manta que nos aqueça e acabe com nosso inverno interior.


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