terça-feira, 29 de abril de 2014

Conversando com Clarice Lispector




Numa festa imaginária encontrei Clarice Lispector e no devaneio até apareço na foto, sou a que está de costas e ela encaixou-se no lugar da minha filha. Peço à querida filha que não sinta-se preterida, é só um devaneio.

 Sonho com veracidade! Aconteceu esse diálogo:

Clarice inicia:

_ Quer saber o que eu penso? Você aguentaria conhecer minha verdade?

_ Mas vai contar o que pensa hoje, ou o que pensou ontem e será que pensará igual amanha? Como aguento reconhecer as minhas que vivem se transmudando, a sua não me causará nenhuma estranheza. Conte!

_ Pois tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros. Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam.

_ Beleza Clarice. Sou uma errada consciente, como conviver com perfeição?
Nada mais excitante do que ousar. Se errar sofro, aprendo e me sinto viva. O tempo se incumbe de resolver e devolver a alegria que criará novo ousar.

 _ Tenho admiração nata por quem segue o coração. Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim.

_ Sigo a intuição que minha sensibilidade desperta e me jogo de cabeça. Algumas vezes sou aplaudida em outras sou escorraçada. Sinceridade mesmo se amigável, para uns pode ser ofensa. O fundamental é tentar sabendo que, o erro ou o acerto são os presumíveis resultados. Sou mente perturbada que se perde em pensamentos loucos, ou em contemplação, ou em imaginação, não me considero louca talvez, estranha...

_ Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. E adoro ficar sozinha.

­_ Quem não se reciclar e modificar, mudar de opinião e de querer, ser mesmo volúvel, não tem vida, simplesmente vive dias iguais. Só não sou volúvel comigo que sempre serei minha melhor companhia e a aprecio nos momentos solitários.

_ Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir… Este é o meu alimento!

_ Sentir, sentir na pele, sentir no âmago, sentir no coração, qualquer sentir para saber que estou viva. Sentir do amor até a dor, da alegria até a tristeza, da amizade até a saudade, da luta pela vitória até a aceitação da derrota, da crença até a desilusão... É assim, não é Clarice?

O texto de Clarice Lispector

Quer saber o que eu penso? Você aguentaria conhecer minha verdade? Pois tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros. Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam. Tenho admiração nata por quem segue o coração. Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim.

Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente. E adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir... Um beliscãozinho que for, me dê. Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo. Este é o meu alimento!


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