Dia desses me pediram para escrever uma carta para alguém.
Respondi, pode deixar. Sei lá quem é o alguém, mas escreverei. Mesmo porque se o pedido for para escrever uma bula de algum remédio e pagarem bem, não me
negarei a fazer. Inventar é preciso, ativa os neurônios, é o que dizem os
neurologistas.
Decidida peguei uma folha de papel, dessas que uso na
impressora, caneta esferográfica na mão, olhando pra folha em branco. Lembrei
que se coloca o local onde está o missivista e a data. Será necessário o
horário? Feito.
Como iniciar?
Querido Alguém? E se não for querido?
Prezado Alguém? Muito formal, sei lá que tipo de proximidade
existe entre eles...
Bem que a pessoa podia ter pedido que eu escrevesse um e-mail, sou boa nisso! Ou uma mensagem pequena para enviar pelo Twitter, ou pelo Facebook, ou pelo WhatsApp...
A esta altura já deixei a folha datada e a caneta de lado, outra
folha de papel, lápis na mão e borracha ao lado.
Não sei nada sobre o alguém, se é romance ou amizade, porque com
certeza não é relação de trabalho ou de negócios, pois teria me informado sobre
o teor da carta. Então foco num romance ou numa amizade. Refinando mais meu
pensamento vejo que nos dois casos existe amor. Verdade que num romance, na
grande maioria é só amor físico, já na amizade é amor de um ser para outro ser,
ama-se a essência do ser. Vou fazer de conta que é um amor romântico que se
juntou ao amor amizade.
Está bem, sei que isso é difícil de existir... Decidido,
é uma carta de amizade!
Então lápis em punho, começo:
Como vai meu amigo?
Tem muito tempo que não
nos falamos então resolvi escrever. Sei que no nosso último encontro você se
aborreceu com...
Acho que é um bom iniciar! Como está difícil escrever a mão! Já não
se fazem boas borrachas que apaguem sem marcar o papel e sem deixar marcas, e
como estou errando! Que está acontecendo comigo? As palavras estão fugindo e o
pior, até as ideias!
... minhas opiniões
sinceras com a única intenção de te alertar. Interpretou como ofensas. Nem se
despediu, saiu batendo a porta e eu fiquei no vazio, mas com a consciência
tranquila, se um amigo não tem coragem de apontar um erro, esse não é amigo.
Quero explicar o porquê de ter ido por esse caminho de atrito na
amizade. Penso (esse é meu problema, penso demais e muitas vezes, erro!) que se pelo
menos um deles tem em si o verdadeiro amor amigo, não se omitirá de aconselhar,
mesmo sabendo que o outro poderá não entender. E se a pessoa que me encomendou
a carta, não quer ela própria escrever, parece claro que houve desentendimento.
E teu plano continua
buscando realizar? Sabe que torço pra você ter sucesso, apesar dos contras que
me atrevi a expor. Estou com saudades de nossos papos, das brincadeiras, dos
desabafos e até dos silêncios que muitas vezes nos permitimos para refletir
sobre algum assunto que surgiu na conversa. E das competições que criávamos nas
brincadeiras, lembra-se delas? Você sempre foi mais rápido nas respostas, mas
também eu ganhei algumas e não gostávamos de ficar naquela de “ah, é assim?”.
Espero que você
tenha entendido minha intenção e que tua amizade continue forte como a minha. Aguardo
notícias tuas...
Teu amigo, Fulano de
Tal.
PS.: Preciso confessar que somente consegui escrever essa carta
no Word com tudo que tenho direito, corretor de texto, a tecla delete, etc. Imprimi para copiar manuscrevendo e com caneta! Depois de alguns erros e folhas de papel indo descansar no cesto do lixo, bem
amassadas, consegui terminar a bendita!
E constatei que me tornei uma dependente do Word! Será que
existe uma Associação dos Dependentes do Word? E se houver, reaprenderei a
escrever no papel com uma caneta? Tá bom, pode ser com lápis e sua companheira
borracha!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Revele que esteve aqui!