domingo, 8 de junho de 2014

Carta à alguém




Dia desses me pediram para escrever uma carta para alguém. Respondi, pode deixar. Sei lá quem é o alguém, mas escreverei. Mesmo porque se o pedido for para escrever uma bula de algum remédio e pagarem bem, não me negarei a fazer. Inventar é preciso, ativa os neurônios, é o que dizem os neurologistas.

Decidida peguei uma folha de papel, dessas que uso na impressora, caneta esferográfica na mão, olhando pra folha em branco. Lembrei que se coloca o local onde está o missivista e a data. Será necessário o horário? Feito.

Como iniciar? 

Querido Alguém? E se não for querido?

Prezado Alguém? Muito formal, sei lá que tipo de proximidade existe entre eles...

Bem que a pessoa podia ter pedido que eu escrevesse um e-mail, sou boa nisso! Ou uma mensagem pequena para enviar pelo Twitter, ou pelo Facebook, ou pelo WhatsApp...

A esta altura já deixei a folha datada e a caneta de lado, outra folha de papel, lápis na mão e borracha ao lado.

Não sei nada sobre o alguém, se é romance ou amizade, porque com certeza não é relação de trabalho ou de negócios, pois teria me informado sobre o teor da carta. Então foco num romance ou numa amizade. Refinando mais meu pensamento vejo que nos dois casos existe amor. Verdade que num romance, na grande maioria é só amor físico, já na amizade é amor de um ser para outro ser, ama-se a essência do ser. Vou fazer de conta que é um amor romântico que se juntou ao amor amizade. 

Está bem, sei que isso é difícil de existir... Decidido, é uma carta de amizade!

Então lápis em punho, começo:

Como vai meu amigo?

Tem muito tempo que não nos falamos então resolvi escrever. Sei que no nosso último encontro você se aborreceu com...

Acho que é um bom iniciar! Como está difícil escrever a mão! Já não se fazem boas borrachas que apaguem sem marcar o papel e sem deixar marcas, e como estou errando! Que está acontecendo comigo? As palavras estão fugindo e o pior, até as ideias!

... minhas opiniões sinceras com a única intenção de te alertar. Interpretou como ofensas. Nem se despediu, saiu batendo a porta e eu fiquei no vazio, mas com a consciência tranquila, se um amigo não tem coragem de apontar um erro, esse não é amigo.

Quero explicar o porquê de ter ido por esse caminho de atrito na amizade. Penso (esse é meu problema, penso demais e muitas vezes, erro!) que se pelo menos um deles tem em si o verdadeiro amor amigo, não se omitirá de aconselhar, mesmo sabendo que o outro poderá não entender. E se a pessoa que me encomendou a carta, não quer ela própria escrever, parece claro que houve desentendimento.

E teu plano continua buscando realizar? Sabe que torço pra você ter sucesso, apesar dos contras que me atrevi a expor. Estou com saudades de nossos papos, das brincadeiras, dos desabafos e até dos silêncios que muitas vezes nos permitimos para refletir sobre algum assunto que surgiu na conversa. E das competições que criávamos nas brincadeiras, lembra-se delas? Você sempre foi mais rápido nas respostas, mas também eu ganhei algumas e não gostávamos de ficar naquela de “ah, é assim?”.

Espero que você tenha entendido minha intenção e que tua amizade continue forte como a minha. Aguardo notícias tuas...

Teu amigo, Fulano de Tal.

PS.: Preciso confessar que somente consegui escrever essa carta no Word com tudo que tenho direito, corretor de texto, a tecla delete, etc. Imprimi para copiar manuscrevendo e com caneta! Depois de alguns erros e folhas de papel indo descansar no cesto do lixo, bem amassadas, consegui terminar a bendita!

E constatei que me tornei uma dependente do Word! Será que existe uma Associação dos Dependentes do Word? E se houver, reaprenderei a escrever no papel com uma caneta? Tá bom, pode ser com lápis e sua companheira borracha!


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