Pontual? Sou sim ...
Pontual e em cima da hora, nem um segundo a mais, nem um a
menos, ofegante mas, cronometricamente pontual. A duras penas, confesso! Quer
dizer, isso em casos de compromissos, de trabalho ou de negócios ou então,
sessão de teatro, ou cinema, ou show, ou embarques de avião, de ônibus ou de
navio com passagens compradas com antecedência.
Muitos me dizem que querem que eu vá buscar a morte deles, sei
lá porque essa vontade, mas se querem vou. Sei que irei chorando muito, mas com
minha imagem nas melhores condições possíveis! Pois é, apesar dessas
considerações contrárias, me vejo uma mulher pontual.
Sou sim, e ninguém tem nada a ver com o fato que meu anjo da
guarda deve estar todo cheio de pinos de platina pelo corpo e asas, de tanto me
salvar das corridas desenfreadas, com o carro pelas ruas, para chegar ao limite
zero de horários determinados. Pensam que é fácil sair de casa sentindo-se bem,
confortável, preparada para o que der e vier?
Uso o tempo mínimo necessário que toda mulher precisa para se
sentir bem ao sair de casa. Tomo banho rápido, depois do creme pelo corpo,
visto o roupão e vou decidir a roupa. Antes observo o tempo e calculo as horas
que ficarei com ela, analiso se poderá haver mudança de temperatura durante
essas horas e que tipo de roupa a situação pede. Depois dessa difícil decisão,
vou cuidar da imagem facial. Ela é muito importante, ninguém fala com outro sem
olhar no rosto, principalmente nos olhos. Enfrento o espelho e noto olheiras
aparecendo: corretivo nelas. Ao retocar as sobrancelhas vejo uns pelinhos que
não deveriam estar lá, e todo o dia tem algum intrometido. Uma pinça e
rapidamente acabo com eles. Hunn... Nariz com brilho? Isso não, um bom pó
aplicado com um pincel macio, resolve. Os olhos tem que mostrar vivacidade e
uma sombra leve imperceptível aos olhos leigos, e rímel nos cílios é a solução.
Agora é só pentear o cabelo, brigar com alguma mecha que dormiu de mau jeito ou
então, no caso de estarem molhados, escova e secador neles.
A seguir é só vestir a roupa escolhida e encontrar os acessórios
e bijuterias adequadas. É difícil decidir, mas consigo.
A boca também é bem focada, precisa estar com seu contorno
destacado e, se necessário, melhorado, pra isso um lápis de contorno labial, na
cor do batom. Já o batom exige algum estudo... Qual cor combina com a roupa que
vesti? Decido rápido, acho o lápis adequado, faço o contorno e preencho com o
batom.
Falta escolher o par de sapatos e para isso tenho que pensar... Vou
ficar muito em pé ou vou caminhar muito? Preciso decidir o que combina e o que
será confortável. Experimento um, outro e outro e resolvo por um par.
Sim... Não esqueço o perfume! Como sair não perfumada?
Só falta a bolsa e que combine com tudo!
Ela decidida, tenho que abastecê-la com as necessidades: batom
que usei, óculos, lenços de papel, pente, escova de dente, absorvente, estojo
de pó pro caso do nariz brilhar de novo, celular, um pequeno bloco para
anotações que surgirem, celular que não pode ser esquecido no caso daquela
resposta que espero chegue, aquele amuleto que não largo, lenços umedecidos e
desodorantes se o banho vencer, um pequeno vaporizador com perfume, carteira
com documentos e algumas poucas notas de dez reais e o cartão de crédito, quase
sem crédito. Totalmente pronta e sensação de dever cumprido comigo mesma.
Tiro o carro da garagem, coloco o cinto de segurança e lembro
(não tem uma vez que consigo ir embora na primeira saída) esqueci os documentos
do carro.
Olho o relógio: estou mais que atrasada.
E penso, porque não nasci homem? Só banho e barba uma vez ao dia. Roupa sempre igual, camisa e calça e às vezes um terno e gravata e uma pasta de trabalho. E ainda reclamam que demoramos a nos aprontar para sair!
E penso, porque não nasci homem? Só banho e barba uma vez ao dia. Roupa sempre igual, camisa e calça e às vezes um terno e gravata e uma pasta de trabalho. E ainda reclamam que demoramos a nos aprontar para sair!
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