Pois é, prometi ao Pai em oração, que iria exercitar minha paciência
naqueles momentos em que parece que até o ar falta, a luz apaga, o sangue
borbulha e o coração dispara... Fúria mesmo. Aprendi a respirar fundo algumas
vezes e sublimar o pensamento e cerrar os dentes para não retrucar de modo
agressivo. Andava feliz, estava conseguindo e a cada vitória me parabenizava e
me dizia, “Bravo Hilda, você vai se tornar igual a uma monja tibetana!”.
Com a pretensão de criar em mim a virtude da paciência, avaliei
que além dos muitos episódios cotidianos onde se faz necessária a paciência,
tem as segundas-feiras da Maria, excelente faxineira, com uma vontade e
capacidade de trabalhar que não conheço em ninguém. Ela testa minha paciência antes
das oito horas quando chega, e o andamento da casa e da família tem que ser
como ela quer. Lembro-me de uma tarde em que estava com uma gripe fortíssima,
havia entrado às sete horas e meia numa sala de aula com quarenta adolescentes
querendo, ou fingindo querer, ou mesmo evidenciado total desinteresse de entender
trigonometria. Aliás, esse é outro ponto que é preciso paciência, muita paciência.
Ainda me fiz presente e ensinei outros itens de álgebra em mais quatro salas.
Claro que sobre efeito de analgésico. Depois de almoçar, já em casa e sabendo
que ainda teria outra jornada de aulas à noite, tomei outro comprimido salvador
que também me causa sono, e me tranquei no meu quarto para uma cochilada
reparadora. Quando já meio recuperada sai do quarto levei a maior bronca dela,
que alegou que atrapalhei seu trabalho. A paciência ou talvez o mal-estar,
fecharam minha boca, ignorei-a e só. Talvez o maior exercício para adquirir
paciência seja responder e manter uma conversa com ela. Sua voz é grossa e não
pronuncia as palavras de forma inteligível, tanto que às vezes tenho a sensação
que ela se comunica por algum dialeto que desconheço. Para entendê-la preciso
que repita umas três vezes e tenho que me dedicar unicamente a ouvi-la, sem
chance de realizar qualquer outra coisa.
E pelas segundas-feiras continuei vitoriosa, com pequenos deslizes
explicáveis em uma descendente de italianos sendo os maternos de calabreses
briguentos, e ainda ser nascida no signo de escorpião.
Até a última segunda-feira!
Estou escrevendo nessa segunda-feira que falei. Pois bem, todos
que me conhecem sabem que desperto muda por um bom tempo, até à Maria já
expliquei isso. Em vão! Desejei um bom dia a ela e pretendia preparar o café
que me desperta totalmente.
Antes de continuar o relato da minha sina da última
segunda-feira, é necessário esclarecer que em janeiro ela pediu-me que pagasse
seu recolhimento ao INSS pelo meu banco online e descontasse do seu pagamento.
Paguei, anotei no carnê o número do documento e a data.
Dois meses depois ela
me diz que o pagamento de janeiro não havia sido efetuado. Com paciência abri
no banco online o extrato da data da transação e mostrei a ela o débito na
minha conta, só que ela é analfabeta, mas me pareceu que entendeu. Hoje, sequer
respondeu ao meu desejo de bom dia e em seu dialeto ainda mais confuso, talvez
pela indignação fantasiosa que estava sentindo, consegui entender que novamente
me acusava de não ter pagado seu INSS...
Agora tenho que pedir perdão ao Pai por ter descumprido
totalmente, o propósito que fiz!
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