sábado, 14 de março de 2015

Um ser feliz




Felicidade gera leveza do ser, paz, alegria também e amor explodindo no peito. Amor sem compromisso, sem interesse, ama-se o outro somente porque vê nele seu semelhante e como tal, com todas as querências, e também com emoções idênticas às suas. Amor que desperta solidariedade.

Para ter felicidade, o homem busca o prazer. Mas o prazer acaba quando a fonte dele deixa de ser novidade e passa a ser rotina. E o que antes foi prazer somente, pode se transformar em obrigações e preocupações em conservá-los, como alguns relacionamentos mal resolvidos e a manutenção dos bens materiais. Isso interfere na felicidade, preocupa e abala o bem estar.

 Por que hoje, pensei em o que é ser feliz? 

Não penso em como posso ser feliz, isso já tenho ideia formada e sei como me fazer feliz. Certo que acontecem fatos que por tempos comprometem minha felicidade, mas já conheço a base espiritual que preciso para superar os desconfortos e senti-la, e logo a alcanço novamente. Se sempre fui assim? Claro que não, isso estou construindo no espírito, aos poucos, com muita meditação, observação dos nossos semelhantes, estudo também das leis dos homens e das de Deus através dos ensinamentos de seu Filho.

Bom agora vou responder à minha pergunta lá de cima:

Porque hoje reconheci que conheço um Homem Feliz, e foi ele que me levou a esse questionamento. Ele é um lavador de carros e diariamente, lava carros de proprietários que residem na rua e nas proximidades de onde resido, inclusive o meu. Permito a ele que guarde seus pertences de trabalho, balde, panos de limpeza, produtos que utiliza para cuidar dos carros, no abrigo do relógio de registro do consumo de água. Com isso o vejo várias vezes ao dia quando os vem pegar para executar seu trabalho. Sempre alegre, educado, lava os carros de forma perfeita até usa pincel nas reentrâncias, encera e lustra a lataria. Enquanto executa seu trabalho, canta com vozeirão, conhece as letras das músicas, não desafina, é verdade que às vezes tenho vontade de pedir a ele para se calar.

Gosta de ler, estuda, já terminou o ensino médio e, no final do ano passado, prestou vestibular para Direito e foi aprovado. Não cursou, mas não pretendia mesmo, quis somente testar seus conhecimentos. Gosta de conversar sobre política, sobre futebol e torce pelo Corinthians. Fala sobre comportamento humano e também em religião, diz ter muita Fé. Vota nas eleições, mantém seus documentos em ordem.  

Nunca soube, nos mais de quinze anos que o conheço, se tem família ou companheira.

Às vezes encontra quem ofereça abrigo noturno em troca de vigilância, aceitou algumas vezes, mas logo desistiu. Quer a liberdade total e dorme sob alguma marquise. Suas roupas lava enquanto limpa os carros e as pendura pelos muros, coisa que não aprovo, mas como o aceito, deixo que elas fiquem lá, como bandeiras desfraldadas, enfeando minha casa. Banho ele toma nos chuveiros do jardim da praia e nos bancos do jardim ele faz suas refeições, que compra no supermercado. Não fuma e não ingere bebidas alcoólicas. Contribui para a Previdência e não descuida de sua saúde. Sei que como diversão, jogava bingo e hoje, com a proibição desse jogo, não sei que outra diversão ele tem, além da leitura.

Guardar seus poucos pertences, roupas, sapatos e livros é o que lhe causa maior problema. Uma época fazia uma trouxa e armazenava nos galhos de uma árvore da minha rua, bem no alto, mesmo assim algum morador reclamou e ele passou a guardar aqui em casa sem eu saber, no mesmo lugar onde ficam seus materiais pra o trabalho. Até quando atendi o funcionário que veio fazer a leitura do consumo de água, e vi o relógio mais que escondido pelas coisas dele. Pedi que retirasse seus pertences. Hoje ele dorme numa loja e lá guarda suas coisas, parece que está dando certo.

Não conheço ninguém mais feliz que ele.

É um feliz morador de rua, vivendo em total liberdade.

O homem feliz basta-se a si mesmo.

Não se pense, todavia, que o homem para ser feliz necessite de muitas ou de grandes coisas, só porque não pode ser supremamente feliz sem bens exteriores.

Aristóteles ( livro X da Ética a Nicômaco, página,191).


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