Felicidade gera leveza do ser, paz, alegria também e amor
explodindo no peito. Amor sem compromisso, sem interesse, ama-se o outro
somente porque vê nele seu semelhante e como tal, com todas as querências, e
também com emoções idênticas às suas. Amor que desperta solidariedade.
Para ter felicidade, o homem busca o prazer. Mas o prazer acaba
quando a fonte dele deixa de ser novidade e passa a ser rotina. E o que antes
foi prazer somente, pode se transformar em obrigações e preocupações em
conservá-los, como alguns relacionamentos mal resolvidos e a manutenção dos
bens materiais. Isso interfere na felicidade, preocupa e abala o bem estar.
Por que hoje, pensei em o que é ser feliz?
Não penso em como posso ser feliz, isso já tenho ideia formada e
sei como me fazer feliz. Certo que acontecem fatos que por tempos comprometem
minha felicidade, mas já conheço a base espiritual que preciso para superar os
desconfortos e senti-la, e logo a alcanço novamente. Se sempre fui assim? Claro
que não, isso estou construindo no espírito, aos poucos, com muita meditação,
observação dos nossos semelhantes, estudo também das leis dos homens e das de
Deus através dos ensinamentos de seu Filho.
Bom agora vou responder à minha pergunta lá de cima:
Porque hoje reconheci que conheço um Homem Feliz, e foi ele que
me levou a esse questionamento. Ele é um lavador de carros e diariamente, lava
carros de proprietários que residem na rua e nas proximidades de onde resido,
inclusive o meu. Permito a ele que guarde seus pertences de trabalho, balde,
panos de limpeza, produtos que utiliza para cuidar dos carros, no abrigo do
relógio de registro do consumo de água. Com isso o vejo várias vezes ao dia
quando os vem pegar para executar seu trabalho. Sempre alegre, educado, lava os
carros de forma perfeita até usa pincel nas reentrâncias, encera e lustra a
lataria. Enquanto executa seu trabalho, canta com vozeirão, conhece as letras
das músicas, não desafina, é verdade que às vezes tenho vontade de pedir a ele
para se calar.
Gosta de ler, estuda, já terminou o ensino médio e, no final do
ano passado, prestou vestibular para Direito e foi aprovado. Não cursou, mas
não pretendia mesmo, quis somente testar seus conhecimentos. Gosta de conversar
sobre política, sobre futebol e torce pelo Corinthians. Fala sobre
comportamento humano e também em religião, diz ter muita Fé. Vota nas eleições,
mantém seus documentos em ordem.
Nunca soube, nos mais de quinze anos que o conheço, se tem família
ou companheira.
Às vezes encontra quem ofereça abrigo noturno em troca de
vigilância, aceitou algumas vezes, mas logo desistiu. Quer a liberdade total e
dorme sob alguma marquise. Suas roupas lava enquanto limpa os carros e as
pendura pelos muros, coisa que não aprovo, mas como o aceito, deixo que elas
fiquem lá, como bandeiras desfraldadas, enfeando minha casa. Banho ele toma nos
chuveiros do jardim da praia e nos bancos do jardim ele faz suas refeições, que
compra no supermercado. Não fuma e não ingere bebidas alcoólicas. Contribui
para a Previdência e não descuida de sua saúde. Sei que como diversão, jogava
bingo e hoje, com a proibição desse jogo, não sei que outra diversão ele tem,
além da leitura.
Guardar seus poucos pertences, roupas, sapatos e livros é o que
lhe causa maior problema. Uma época fazia uma trouxa e armazenava nos galhos de
uma árvore da minha rua, bem no alto, mesmo assim algum morador reclamou e ele
passou a guardar aqui em casa sem eu saber, no mesmo lugar onde ficam seus materiais
pra o trabalho. Até quando atendi o funcionário que veio fazer a leitura do
consumo de água, e vi o relógio mais que escondido pelas coisas dele. Pedi que
retirasse seus pertences. Hoje ele dorme numa loja e lá guarda suas coisas,
parece que está dando certo.
Não conheço ninguém mais feliz que ele.
É um feliz morador de rua, vivendo em total liberdade.
O homem feliz basta-se a si mesmo.
Não se pense, todavia, que o homem para ser feliz necessite
de muitas ou de grandes coisas, só porque não pode ser supremamente feliz sem
bens exteriores.
Aristóteles ( livro
X da Ética a Nicômaco, página,191).
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