JOÃO CONFUSO

Historinha para domingo

Os pais o ensinaram, desde menino, que para ser um homem digno, tinha que ser sincero, nunca mentir, qualquer que fosse o motivo não existiria desculpa para a mentira. João compreendeu, apesar de muitas vezes não entender.

Por exemplo, quando ouviu a mãe dizer à vizinha que o bolo que ela lhe deu estava muito bom, e ele viu quando ela  o jogou no lixo e perguntou:

_Mãe, você mentiu?

_Não filho, fui gentil.

Ou quando saiu com o pai e ele encontrou uma amiga, enquanto conversaram o pai lhe deu dinheiro para ir comprar sorvete e no caminho de volta a casa, pediu para não contar à mãe sobre o encontro e confirmar que o atraso foi pelo sorvete que ele tomou. João perguntou:

_ Pai isso é verdade?

_ É meia verdade, porque se sua mãe souber que encontrei aquela moça, vai ficar triste, então pra que falar? Você sabe que não gosto de ver sua mãe triste!

Os anos passando, os pais confirmando que ser sincero é o que faz a diferença entre os homens e João a cada vez mais confuso. João criança, adolescente, nunca mentiu e aos poucos perdeu seus amigos e mais confuso ficou.

Ao ingressar na universidade novos conhecimentos aconteceram e, entre eles, José, Luiz e Antônio que se uniram a João por identidades e afinidades. Moravam juntos num pequeno apartamento, ajudavam-se nos trabalhos de estudos. Nos finais de semana que ficavam na cidade, saiam juntos, amigos enfim, pensou João.

Já no final do curso, vésperas da apresentação de um trabalho de formatura em grupos. João e seus amigos formaram um e dividiram o trabalho. Antônio havia conhecido e se apaixonado por uma moça da cidade e nos finais de semana sua atenção era toda para ela e era nesse tempo que podiam elaborar o trabalho. Antônio pediu aos amigos que realizassem o trabalho por ele. José e Luiz concordaram, João não, entendeu que seria uma mentira se o amigo não participasse. As amizades acabaram ali.

Após a formatura, João foi trabalhar, continuou sendo sincero e só conquistou inimigos entre os colegas da empresa com sua sinceridade. Aos poucos parou de falar, foi a única maneira que encontrou para se manter sincero. Mudo, encontrou amigos e até amor...

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“A vossa palavra seja sim, se for sim; não se for não. Tudo o que passar disso vem do mal”  Mt 5, 33 - 37