O primeiro dia foi fácil, a revolta e a mágoa ajudaram, sentiu-se livre,
nem correu quando o telefone tocou. No segundo alguma coisa já estava
diferente. No terceiro dia se perguntou: “Onde está a revolta que sentia?” e
atendeu o celular e o telefone logo após o primeiro toque. Quarto dia acionou
toda sua força de vontade e continuou no trajeto diferente do costumeiro, não
ligou pra ele e nem mandou mensagem. Antes de dormir se cumprimentou: “Muito
bem, você foi forte, ele tem que aprender!” No quinto perdeu a conta das vezes
que pesquisou o celular, a secretária eletrônica e a caixa de e-mail a procura
de mensagens dele, mas no fim do dia, novamente se saudou. No sexto dia, à
noite, ela corre atender ao telefone e seu coração dispara, é ele. Gentil e
genericamente, como se fossem bons amigos e nada tivesse acontecido,
simplesmente lhe pede umas informações sobre um livro que ela lera, se é
interessante, quem é o autor... Ela pensa, aliás seu maior defeito é pensar
demais, que é só uma desculpa dele pra falar com ela e depois de
informar sobre o livro, pergunta a ele se já entendeu que esteve errado, que a
magoou. Novo desentendimento e fim da conversa de modo ríspido. O sétimo dia
foi igual ao primeiro, o oitavo igual ao segundo, o nono igual ao terceiro, mas
o décimo dia foi diferente do quarto, a noite ao deitar percebeu que poucas
vezes pensou nele, no décimo quinto dia, deu de ombros e pensou: azar dele, não
sabe tudo que eu queria lhe dar... E saiu com as amigas aberta a novos
conhecimentos. Enquanto ele lia o livro e pensava nela, mas com seu orgulho
intacto!
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Escrevi essa historinha e depois pensei e pesquisei sobre orgulho... Encontrei algumas
citações que me levaram a refletir, principalmente nos personagens que criei,
onde ela se queixa de mágoas e pede a ele que se desculpe pelos seus atos que a
feriram de alguma forma. Porém o orgulho dele não o permite reconhecer seus
erros. E ela, está certa em apontar os erros dele? Foram os questionamentos que
me surgiram após ler algumas citações e, principalmente essa:
“Se queres
ser amado, sê modesto; se queres ser admirado, sê orgulhoso; se queres as duas
coisas, usa externamente a modéstia e internamente o orgulho. Mas o próprio
orgulho pode ser modesto, raramente se deixando ver e nunca se deixando ouvir.
Nunca
provar que um homem está errado; ele não o perdoará nunca. O «nada fazer» é uma
das coisas mais preciosas do mundo; frequentemente vale muito o nada fazer e é
sempre uma boa coisa o nada dizer. Ninguém deve mostrar-se ansioso de proclamar
a verdade. Aceitando as convenções que a sociedade estabelece, gozamos um pouco
de liberdade dentro das suas leis; isso nos permitirá tudo, se o fizermos com
elegância e não o andarmos a proclamar." Will Durant, in 'Filosofia da Vida'
Vivendo e Aprendendo...
Como gosto disso!
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