quinta-feira, 11 de abril de 2013

Doação do Amizade




Amizade é o nome do livro que resolveu se ofertar a um amigo admirado. Amizade imaginou que a história que ele contava era interessante ao amigo e, gentilmente quis se doar a ele.
O amigo habita uma pequena cidade de poucos habitantes, de difícil acesso desde a prateleira onde placidamente Amizade se guardava. Isso não foi entrave para ele, embalou-se cuidadosamente, sentiu-se protegido e nem o custo da embalagem e das passagens do avião que o levaria, o detiveram em sua decisão.

E foi de avião de sua cidade para outra, desta para a cidade do amigo, viagem cansativa por terra, nada de avião. A embalagem esquentando sua capa e o calor se propagando por suas páginas. Mas ao imaginar a alegria do amigo ao lê-lo, afastava o mal estar que a viagem causava.

Chegou ao destino no entardecer e se hospedou numa estante da única hospedaria do local. Exausto pela viagem descansou feliz depois de soltar ao vento uma de suas páginas com a certeza que as ondas do vento a levaria ao amigo e ele saberia que chegara. Ao acordar dirigiu-se à casa do amigo, ansioso para sentir sua felicidade ao recebê-lo.

Triste voltou para a estante da hospedaria. O impediram de entrar na casa daquele que queria presentear. Mas é um livro obstinado, envia outra de suas páginas ao amigo supondo que tenha havido algum contratempo que impediu o encontro dos amigos. Amanhece ainda na estante da hospedaria. Antes da metade do dia o proprietário da hospedaria o avisou que sua estadia terminara. E lá foi o Amizade, ainda dentro da embalagem, agora amarrotada e com alguns rasgos e Amizade sentindo a dor que causavam. Antes de partir ainda tentou contatar o amigo e lançou outra página ao vento. Sem retorno de qualquer sinal do amigo, partiu.

A volta pareceu mais longa, foi sofrida, decepcionante e conclusiva, somente ele era amigo, mesmo sendo assim, pelo esforço que realizou, pela sua intenção, merecia receber algum sinal ou talvez, um pedido de desculpas, pois amigo que é amigo, entende e perdoa.

A tristeza que aconteceu no coração do Amizade, não foi pela recusa do presente e sim, pela ausência de algum gesto do amigo que demonstrasse algum pesar pelo desencontro.

 Amizade arrancou as páginas onde havia escrito o sentimento pelo amigo e queimou-as uma a uma.

Agora, mesmo que o amigo queira ler o Amizade, ele não estará inteiro, e restaurar as páginas talvez só com a ajuda do tempo...

E o Amizade entendeu que amizade é como a rosa de pétalas delicadas que inebria e enfeita a vida, mas com o jeito rosa de ser, também tem espinhos.


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