Por do Sol em Santos
Ele está ali, como que me esperando paciente e tranquilo, tanto
que até me tira do equilíbrio, parece excesso de autoconfiança, será por que
sempre retorno?
Muitas vezes passo por ele e nem o vejo em outras, finjo não
ver, mas sua presença sempre incomoda, mexe com meu emocional. Várias vezes
resolvo dar nova chance e me acerco dele com atenção e com disposição total de
entendê-lo. Até que o início acontece de forma fácil e agradável, e me empolgo por
sentir nosso relacionamento acontecendo em parceria harmônica.
Até ele discorrer sobre algum assunto que não domino ou que é
incompreensível à minha capacidade intelectual ou às comunidades que participo
e a todos meus círculos de convivência. E o pior, nem esclarece minhas dúvidas,
na verdade me faz sentir desprezada e humilhada pelo seu arrogante silêncio.
É por isso que sempre o deixo prometendo a mim mesma que nunca
mais ele me fará sentir uma tola, que vou ignorá-lo solenemente. E o esqueço por
alguns dias, talvez somente no consciente, pois logo meu ativo inconsciente
traz a lembrança dele à minha mente. E o desejo de contatá-lo é maior que a
contrariedade que ele me causa. Não venço a tentação e me envolvo novamente e
tudo acontece como antes.
Num dos primeiros encontros ele declarou:
“Pessoas completamente
mundanas nunca entendem sequer o mundo; elas confiam em algumas máximas cínicas
e não verdadeiras”.
Custei um pouco a entender que ele se referia aos tais “ditados”
que ouvimos desde crianças, do tipo: “Aquele
homem vai progredir, ele acredita em si mesmo”. Você que me lê, sabe o que
ele pensa desse dizer? Diz que quem acredita em si mesmo acaba louco, tipo
Napoleão, Hitler...
Ponderei, usei meu raciocínio lógico e perguntei se não existe
esse tipo de homem assim, e que vença na vida, e sua resposta foi não.
Ao deixá-lo conversei comigo mesma. Muitas vezes ouvi e
acreditei que autoconfiança é o primeiro passo para o sucesso! Pois é, me
respondi, mas em excesso oculta seus pontos fracos que poderão prejudicá-la no
que se propõe realizar. Lembre-se sempre, nunca despreze seu oponente!
Noutro encontro, depois de trocarmos toques suaves entremeando a
conversa, surge o assunto ‘felicidade’ e ele me diz:
“O homem feliz é o que faz
coisas inúteis; pois o triste ou o doente não têm forças para ficar sem fazer
nada”.
Evidente que o deixei, dias depois em algumas horas meditando
enquanto caminhava na beira da praia, compreendi e vi que é nisso que consiste
meus momentos felizes, quando estou realizando atividades prazerosas e sem
pensar se serão úteis ou não. Agora aqui escrevendo sem nenhuma pretensão,
estou feliz. Com isso volta meu desejo de reencontrá-lo. Passamos uma hora
agradável, sem discordâncias...
Até ele declarar:
“Muito mais ampla seria a
sua vida se o seu eu pudesse tornar-se menor dentro dela”
Parti e nem quis pensar nessa afirmação dele. Mas de vez em
quando ela surgia nas minhas ideias. De repente meu cérebro se organiza e
esclarece que, simplesmente ele quis dizer que se eu olhar mais para fora de
mim mesma, minha vida seria melhor. Concordei e passei a aplicar isso sempre
que lembrava, porque o hábito de querer satisfazer minhas vontades, ou também a
fraqueza de não saber perder, ou manter uma opinião e nem pensar em modificá-la
e outras mais, as vezes querem prevalecer.
Depois dessa conclusão, meu amor por ele reacendeu e o levei ao
jardim da praia num pôr do sol, verdadeira obra pictórica da natureza, um
cenário mais que sugestivo para nosso encontro. Foi relaxante e vibrante, que
me trouxe paz, o entendia plenamente até ele proferir esse pensamento:
“Pode-se libertar as
coisas de leis externas ou acidentais, mas não das leis da sua própria natureza”
Deixei-o falando sozinho, o procurarei se meus neurônios processarem
essa afirmação e me elucidarem.
Aí conto a você suas
conclusões em outro texto, ok?
Nota da
autora: meu companheiro desse relacionamento conflitante é o livro “Ortodoxia”
cujo autor é
G. K.
Chesterton
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Revele que esteve aqui!