sábado, 8 de fevereiro de 2014

Relacionamento conflitante

Por do Sol em Santos


Ele está ali, como que me esperando paciente e tranquilo, tanto que até me tira do equilíbrio, parece excesso de autoconfiança, será por que sempre retorno?

Muitas vezes passo por ele e nem o vejo em outras, finjo não ver, mas sua presença sempre incomoda, mexe com meu emocional. Várias vezes resolvo dar nova chance e me acerco dele com atenção e com disposição total de entendê-lo. Até que o início acontece de forma fácil e agradável, e me empolgo por sentir nosso relacionamento acontecendo em parceria harmônica.

Até ele discorrer sobre algum assunto que não domino ou que é incompreensível à minha capacidade intelectual ou às comunidades que participo e a todos meus círculos de convivência. E o pior, nem esclarece minhas dúvidas, na verdade me faz sentir desprezada e humilhada pelo seu arrogante silêncio.

É por isso que sempre o deixo prometendo a mim mesma que nunca mais ele me fará sentir uma tola, que vou ignorá-lo solenemente. E o esqueço por alguns dias, talvez somente no consciente, pois logo meu ativo inconsciente traz a lembrança dele à minha mente. E o desejo de contatá-lo é maior que a contrariedade que ele me causa. Não venço a tentação e me envolvo novamente e tudo acontece como antes.

Num dos primeiros encontros ele declarou:

“Pessoas completamente mundanas nunca entendem sequer o mundo; elas confiam em algumas máximas cínicas e não verdadeiras”.

Custei um pouco a entender que ele se referia aos tais “ditados” que ouvimos desde crianças, do tipo: “Aquele homem vai progredir, ele acredita em si mesmo”. Você que me lê, sabe o que ele pensa desse dizer? Diz que quem acredita em si mesmo acaba louco, tipo Napoleão, Hitler...

Ponderei, usei meu raciocínio lógico e perguntei se não existe esse tipo de homem assim, e que vença na vida, e sua resposta foi não.

Ao deixá-lo conversei comigo mesma. Muitas vezes ouvi e acreditei que autoconfiança é o primeiro passo para o sucesso! Pois é, me respondi, mas em excesso oculta seus pontos fracos que poderão prejudicá-la no que se propõe realizar. Lembre-se sempre, nunca despreze seu oponente!

Noutro encontro, depois de trocarmos toques suaves entremeando a conversa, surge o assunto ‘felicidade’ e ele me diz:

O homem feliz é o que faz coisas inúteis; pois o triste ou o doente não têm forças para ficar sem fazer nada”.

Evidente que o deixei, dias depois em algumas horas meditando enquanto caminhava na beira da praia, compreendi e vi que é nisso que consiste meus momentos felizes, quando estou realizando atividades prazerosas e sem pensar se serão úteis ou não. Agora aqui escrevendo sem nenhuma pretensão, estou feliz. Com isso volta meu desejo de reencontrá-lo. Passamos uma hora agradável, sem discordâncias...

Até ele declarar:

Muito mais ampla seria a sua vida se o seu eu pudesse tornar-se menor dentro dela

Parti e nem quis pensar nessa afirmação dele. Mas de vez em quando ela surgia nas minhas ideias. De repente meu cérebro se organiza e esclarece que, simplesmente ele quis dizer que se eu olhar mais para fora de mim mesma, minha vida seria melhor. Concordei e passei a aplicar isso sempre que lembrava, porque o hábito de querer satisfazer minhas vontades, ou também a fraqueza de não saber perder, ou manter uma opinião e nem pensar em modificá-la e outras mais, as vezes querem prevalecer.

Depois dessa conclusão, meu amor por ele reacendeu e o levei ao jardim da praia num pôr do sol, verdadeira obra pictórica da natureza, um cenário mais que sugestivo para nosso encontro. Foi relaxante e vibrante, que me trouxe paz, o entendia plenamente até ele proferir esse pensamento:

Pode-se libertar as coisas de leis externas ou acidentais, mas não das leis da sua própria natureza

Deixei-o falando sozinho, o procurarei se meus neurônios processarem essa afirmação e me elucidarem.

Aí conto a você suas conclusões em outro texto, ok?


Nota da autora: meu companheiro desse relacionamento conflitante é o livro “Ortodoxia” cujo autor é

G. K. Chesterton



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Revele que esteve aqui!