sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Vamos pensar nela?



Ninguém gosta de falar sobre ela, sequer pensar nela, mas desde o primeiro ar que respiramos ao nascer, já estamos caminhando para ela. Cada dia vivido é um passo dado. E todos querem viver dias e dias, dar passos e passos, não importando para onde esses passos nos levarão, não é?

Darei um nome a ela: Krack. A Krack!

Sobre o futuro temos sonhos, planos, projetos e expectativas. Mas a Krack é nossa única certeza nele.

Será que é ruim a Krack nos escolher? Mas é um ato da natureza como nascer, crescer, se desenvolver. Quando ainda crianças, sabemos que nos tornaremos adultos, por que não tememos também essa fase da vida?

Em criança tive muito medo da Krack, e toda vez que ela esteve por perto até adoeci. Ficava mal, com febre, de cama. Depois, adulta jovem, a Krack passou a ser para mim, um enigma. Olhava para um que acompanhou a Krack e pensava onde ele estaria naquele momento enquanto chorávamos sua partida. E até hoje é isso que sinto... Curiosidade aliás, minha grande companheira da vida. E essa curiosidade afugenta o medo da Krack, penso que irei descobrir o depois dela, imagino que entenderei o que aqui não consegui. Será que verei os que ficaram? Lerei seus pensamentos? Ouvirei suas conversas? Essa ideia de ler os pensamentos não me deixa muito confortável, confesso, e não me atrevo, nem um leve pensar mal de quem já se foi, que dizer falar! Só recordo e comento, das bondades deles... Vai que me ouçam e tomem ciência que me magoaram e sofram por isso!

Será que isso acontece? As mágoas que criamos naqueles que cruzamos pela vida, enquanto forem sentidas, mesmo depois de nossa Krack, nos levará a sofrer?

Para cristãos a ideia da Krack é companheira constante, mas mesmo quem não é deve entender que será impossível se perder tudo que vivemos aqui, tudo que amamos, tudo que aprendemos, tudo que sofremos, tudo que realizamos e o que fizemos alguém sofrer... Não, devem haver recompensas e penalidades.

E como todos, fujo da Krack, me escondo dela e vou amando, vou rindo, vou brincando, vou aprendendo, vou errando, vou me conhecendo, vou comprando perfumes e sapatos... Vou vivendo e vou orando...

O que é a vida e o que é a morte
Ninguém sabe ou saberá
Aqui onde a vida e a sorte
Movem as cousas que há
Mas, seja o que for o enigma
De haver qualquer cousa aqui
Terá de mim o próprio estigma
Da sombra em que eu vivi.

(Fernando Pessoa)


Um comentário:

  1. Gostei demais. Seu retrato perfeito. Parabéns com abraço de saudade. Lourdinha

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