quarta-feira, 29 de junho de 2016

Vivendo o elevador


Ela é a última da fila que espera o elevador chegar. Entra e se espreme entre uma esbelta perfumada e um senhor, digamos, robusto. E pensa:

_Outra dia começando no elevador.

Sabe que no elevador leva mais ou menos um minuto até chegar ao andar onde trabalha, o último. Irá descer na hora do almoço e subir novamente e também descer satisfeita ao término do dia trabalhado. Faz as contas... Quatro minutos por dia, vinte minutos por semana. Num mês serão uma hora e cinquenta e dois minutos. Se acrescentar os dois minutos que espera o elevador chegar, serão três horas e quarenta e quatro minutos por mês e quarenta e quatro horas e quarenta e oito minutos em um ano. Quer dizer, por ano passa um dia, vinte horas e quarenta e oito minutos em função do elevador.

Olha a sua volta e não consegue coincidir seu olhar com nenhum dos passageiros, uns parecem cegos, olhar sem expressão, outros olham pro chão, será que ninguém ainda percebeu que parte da vida deles acontece no elevador? Será que ouvem a música ambiente, suave?

O senhor robusto desce, ela se afasta da esbelta com olhar no além, sorri à esbelta e não recebe retribuição... É, ela está no além, pensa. Ocupando o lugar do robusto, agora um homem trajando terno com ar importante, deve ser um executivo, ela imagina, e sorri pra ele que a olha com ar de quem pergunta: é comigo? E continua com o olhar vago. Desce a esbelta perfumada e ao seu lado agora um senhor com ar de desiludido. Ela pensa que talvez se falar alguma coisa com ele, o faça um pouco feliz, nessa manha:

_ Agora ficou melhor aqui, não é, diz ela sorrindo. O Desiludido a olha sem entender...

Sobraram ela e o executivo que continua com olhar vago, ela fixa o olhar na porta até que se abre. Desce pensando no minuto que se foi sem deixar nada...

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