Historinha pra Domingo
Os três caminhões coloridos, decorados por desenhos de leões, tigres,
girafas, homens saltando, figuras de palhaços, de mágico, entraram pela avenida
que dava acesso ao centro da cidade.
Música alta, daquelas que se tocam em circos, chamava a atenção de todos
que a ouviam e curiosos, saiam às calçadas para esperarem os caminhões
passarem. Ao chegar na praça central da cidade a música do alto falante foi
trocada por uma voz que anunciava:
“O Grande Circo da Luz chegando em Paraíso trazendo diversão para
pessoas de todas as idades. Vocês verão domadores se arriscando no picadeiro
com leões, tigres de bengala, onças e elefantes. Também se emocionarão com os
homens borracha, com os trapezistas, com o globo da morte, com mágicas
fantásticas e com o homem bala. Os palhaços são os melhores do mundo, não
deixem de comprovar. Estreia no sábado. Circo da Luz em sua cidade, Paraíso!”
O circo passou a ser o assunto dos dois dias enquanto foi armado. As
crianças ansiosas, não saiam das redondezas do circo, ouviam os animais,
tentavam passar pela proteção para chegarem perto, conversavam com os
funcionários atarefados montando as estruturas do circo.
Os jovens
entusiasmados, teriam programa diferente para o final de semana, pois a pequena
Paraíso só oferecia um cinema que trocava de filme uma vez ao mês, uma
lanchonete e uma sorveteria onde se reuniam às tardes e um clube, que nas
noites de sábado oferecia alguma coisa parecida com balada, aos jovens e aos
não tão jovens a procura de emoções. A grande diversão dos moradores da cidade
eram os churrascos de domingo com grupos de amigos.
O chegada do circo trouxe expectativas para todos. E na estreia as dependências
do circo ficaram lotadas. Muitos não conseguiram entrar e fizeram fila para a
segunda sessão. Pipocas, maçãs do amor, balas, sorvetes, serviam para diminuir
a tensão causadas pelas feras, pelas acrobacias no trapézio, na hora do homem
bala ser projetado de um canhão, muitos taparam os olhos com as mãos. Os
palhaços entravam entre as apresentações de um e outro número. Eram treze
palhaços que se alternavam, mas um, o ETrusco, prendia a atenção de todos.
O circo ficou quinze dias na cidade e nenhum habitante de Paraíso deixou
de assistir suas sessões. Depois das sessões o assunto sempre foi o ETrusco,
até entre as crianças.
Nas horas de folga os artistas e os funcionários do circo frequentavam a
lanchonete, a sorveteria, sentavam-se nos bancos da praça, menos o ETrusco,
com quem todos queriam conversar ou simplesmente, vê-lo. E por que o
ETrusco despertava a curiosidade do povo?
ETrusco era o único dos palhaços que falava enquanto se apresentava no
picadeiro. Fato estranho, pois palhaço de circo não fala, só se comunica por
mímicas, ETrusco usava das mímicas até com mais expressão que os demais, e
também falava. Mas não foi somente essa diferença que chamou a atenção do povo
de Paraíso. O estranho mesmo é que muitos o ouviam imitir palavras
desconhecidas e outros, entendiam e repetiam suas palavras, suas frases. E os
que entenderam ETrusco eram constantemente chamados para repetirem as mensagens
ouvidas e entendidas, mas dos que não entenderam ETrusco, poucos entenderam o
que ouviram novamente pelos que o explicavam...
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“Por homens de outra língua e por lábios estrangeiros, é que falarei a
este povo: E nem mesmo assim me ouvirão”. Coríntios 14, 20-14.21
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